Conteúdo Coach

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Como professores, nós queremos ter certeza de encontrar as melhores respostas para as dúvidas e dificuldades dos nossos alunos. Essas respostas podem nem sempre ser a que estamos acostumados ou as soluções que um dia funcionaram para nós. Como um engenheiro que trabalha para aumentar a eficiência de suas criações, ser mais eficiente em suas aulas vai direcionar melhor a energia de todos no ambiente, aumentar as taxas de progresso e ampliar o nosso conjunto de ferramentas para desenvolver as suas habilidades e as de outras pessoas. Estes são alguns dos conceitos que nós temos em mente para que possamos ter uma comunicação positiva com os nossos alunos, ajudando-os a alcançar os seus objetivos e se tornarem pessoas mais conscientes. Sabemos que existem diferentes caminhos para isso e há muito mais para ser descoberto, mas esperamos que esse artigo ilumine a sua jornada e desperte novos aprendizados.

Confiança e Honestidade

A primeira pergunta que você deveria fazer para si mesmo é: por que você está ensinando? Precisamos entender de onde vem as nossas motivações. Independentemente de quão concretas ou abstratas são as suas razões, elas devem ser algo que nos pertence e com o qual somos honestos. O primeiro passo para criar uma relação produtiva entre um estudante e o seu professor é a confiança. A confiança é construída a partir da honestidade consigo mesmo, o que naturalmente tende a cativar uma interação honesta com os nossos alunos também.

 

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A maneira mais eficiente para atingirmos os nossos objetivos como treinadores é se tratarmos os objetivos de nossos alunos tão importantes quanto os nossos próprios nos momentos em que estamos juntos. Ser aberto, honesto e comunicativo sobre eles, assim como os de nossos alunos, começará a dar abertura à nossa comunicação para criar um ciclo de feedback positivo baseado não apenas na autoridade, mas no respeito mútuo e objetivos compartilhados. Através desta confiança, também podemos nos tornar mais conscientes dos objetivos não falados dos alunos e dos potentes obstáculos no caminho.

Ao iniciar este diálogo honesto, lembre-se…

#1 – Vocês são duas pessoas. Não importa a sua idade, nível de experiência, gênero, etnia, etc. Se você começar dando aos seus alunos o mínimo de decência humana comum, você contornará muitas das inúteis dinâmicas de poder que podem ser criadas e que muitas vezes resultam em alimentar o ego ou em uma aprendizagem perdida.

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#2 – Todos nós vivemos num processo de desenvolvimento. Nossos professores mais inspiradores estão continuamente aprendendo e mais do que dispostos a compartilhar suas jornadas e lutas. Quando alguém vê as habilidades de outra pessoa ligadas a um ego ou a um ar de desdém, isso na maioria das vezes torna o processo de aprendizagem mais desconfortável do que precisa ser. Coaching é uma indústria de serviços e se suas motivações são predominantemente para alimentar seu ego, se provar “certo” ou o melhor, você pode não estar na profissão certa. Se é essa a sua vontade, ajudar os outros e buscar a verdade lhe servirá de forma muito mais sustentável.

#3 – É sobre eles! Como você provavelmente já encontrou as suas próprias motivações pessoais para o ensino, devemos também entender que os alunos também vêm com suas próprias motivações, o que deve ser honrado e trabalhado com eles. Por mais que nós adoramos ver mais pessoas agarradas ao Parkour e fazendo dele uma parte importante de suas vidas, alguns só querem ficar mais em forma de uma maneira diferente, outras só querem aprender um backflip. Algumas só querem ser como seu personagem favorito do Assassin’s Creed. Nenhuma dessas motivações é melhor ou pior que a sua, mas sendo honesto você pode encontrar aquelas com as quais quer trabalhar e sendo humilde você pode se surpreender quando ajudar alguém com um objetivo diferente do seu.

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Isso me lembra uma aula em que eu trabalhei como assistente onde o foco era cair/girar para trás. Geralmente eu gosto de fazer uma aula bastante profunda e orientada para a progressão que leva ao backflip, mas nós passamos a maior parte da seção aprendendo a cair e girando para trás sobre obstáculos diferentes. No final, só para ter a sensação do backflip, eu sugeri que déssemos assistência aos alunos para completar o giro em um colchão algumas vezes. Depois disso, um dos alunos disse que sempre foi encantado com o backflip e que antes o movimento parecia inalcançável. Ele ficou surpreso e feliz com o quanto as progressões ao longo da aula o ajudaram a desenvolver sua consciência de cabeça para baixo para alcançar o seu novo objetivo, o backflip. Este é um movimento que eu tenho ensinado por muitos anos para muitas pessoas e é comum que algumas delas se sintam desmotivadas ao longo do processo. Naquele momento, eu podia ver o backflip através dos olhos do aluno. Foi uma experiência enriquecedora e fortalecedora para nós dois que me fez perceber como meu ponto de vista e meu sistema de valores podem ser estreitos quando não estou aberto à novas ideias. Desenvolver a nossa confiança e de nossos alunos em direção aos seus objetivos é imperativo para o sucesso compartilhado!

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Consciência antes de Aconselhar

“Para dar a uma pessoa uma opinião é preciso primeiro saber se essa pessoa está disposta a recebê-la ou não”. – Yamamoto Tsunetomo, Hagakure

O próximo passo, que deve estar acontecendo simultaneamente ao primeiro, é a nossa consciência em relação ao estudante. É comum vermos isto sendo feito de maneira eficaz nos meios físicos e técnicos (jeito de andar, postura, mecanismos de compensação, etc.), mas as tendências emocionais e mentais do estudante são igualmente importantes. Isto inclui seus pontos fortes e seus pontos fracos. Como uma lista, você pode fazer referência aos conceitos listados na nossa plataforma para você mesmo e para os outros. Note que eu digo referência e não comparação, já que todos nós temos corpos diferentes, objetivos diferentes e vidas diferentes. Qualquer tópico analisado deve ser apenas um ponto de referência primeiro, uma vez que a comparação de nós mesmos com os outros parece servir mais para nosso ego ou auto-aversão do que para ajudar.

É importante também buscarmos os nossos pontos fortes e as nossas dificuldades. Analisando apenas as dificuldades de um estudante e não abordando seus pontos fortes ou a melhor maneira de receber conselhos, não estamos apenas prestando-lhes um mau serviço quando se trata de ajudar, mas também gastando nossa energia de uma maneira que dificilmente resultará num objetivo alcançado para eles.

Aprimorando a consciência de nossos alunos, podemos encontrar os pontos mais efetivos que atenderão suas necessidades, habilidades e aprendizagens para a vida. A solução pode não vir rapidamente, mas trata-se de dar passos juntos na direção certa. Ao prestarmos melhor atenção primeiro em nós mesmos e depois em nossos alunos, podemos ajudá-los a trilhar um caminho em direção aos seus objetivos.

Para simplificar isto, podemos ter em mente os seguintes aspectos…

#1 – Sua consciência na aula é limitada pela consciência de si mesmo.

    • Você não consegue encontrar o que não sabe que está procurando.
    • Através do desenvolvimento de sua própria consciência física, técnica, mental e emocional, você pode transmitir o processo para os seus alunos.

#2 – Mantenha-se focado na sua aula.

    • Um foco geral e amplo pode permitir que você veja o quadro completo do que está acontecendo com seus alunos quando se trata da atenção e do convivio social entre eles, qual base técnica, progressão ou capacidade física deve vir primeiro, a linguagem corporal e energia do grupo como um todo, assim como o quão engajados eles estão naquele momento.
    • Um foco preciso em um estudante ou em uma parte de sua cadeia cinética por exemplo, pode ser útil para tratar de áreas problemáticas, dar um pouco mais de atenção em um exercício ou técnica e sugerir adaptações e outras atividades complementares à sua aula que podem ajudá-lo.
    • Este momento é deles. Portanto, certifique-se de que sua energia esteja 100% na classe. Nossos professores de artes marciais nos diriam “deixem seus problemas e pensamentos não relacionados fora do tatâme antes de começar a aula” e essa mentalidade precisa ser aplicada tanto ao aluno quanto aos professores para termos um aproveitamento melhor dos nossos treinos e aulas.
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#3 – Faça perguntas!

    • Por mais conscientes que estejamos, o que podemos ver é apenas uma parte do quadro. Portanto, não se esqueça de fazer perguntas que podem parecer não essenciais aos seus alunos periodicamente durante suas sessões.
    • Assim como dar dicas em excesso, isto deve ser equilibrado, mas as perguntas podem construir um senso mais profundo de consciência no estudante, bem como dar-lhe mais informações sobre seu estado mental, emocional ou engajamento enquanto estiver na atividade. Nem sempre é possível que todas as atividades tenham um envolvimento regular durante a aula, por isso pode ser um grande acréscimo ter conversas introdutórias e sessões de feedback no final da aula, ou mesmo durante um “time out”, caso aconteça (como antes ou depois do treino).
    • Temos tantas ferramentas para perceber o mundo que nos cabe usar o máximo possível ao treinarmos a nós mesmos e aos outros. As perguntas criam consciência e um relacionamento verdadeiro quando demonstramos interesse nas pessoas.

Nestes momentos, através da nossa consciência, podemos nos perguntar: “Este comportamento/ação os está ajudando ou atrapalhando em seus objetivos”? Se a resposta for sim, então você já está indo bem. Se não, então você tentará descobrir a melhor ação a ser tomada com base em seu relacionamento com eles e em seu conhecimento de suas forças e fraquezas. Sua pesquisa pode ser uma exploração de diferentes opções que envolvem naturalmente o aluno ou o grupo (Ex: ultrapassar um muro pela primeira vez).

Uma das melhores coisas ao lecionar é ajudar um aluno a desenvolver sua autoconsciência. Em vez de dar sugestões diretas, faça perguntas que o faça pensar. (Como você se sente ao fazer este movimento? Como seus braços podem ajudá-lo a saltar mais?, etc.) Através disso, o aluno passa a se comportar como o seu próprio instrutor também, assumindo responsabilidade e consciência das suas ações. E quem sabe a consciência deles pode até mesmo ajudar em sua própria autoconsciência? Assim você será capaz de terminar o círculo e aplicá-lo a si mesmo e a outros estudantes também. A menos que você esteja tentando criar um zumbi do Parkour, nós queremos que os nossos alunos desenvolvam o quanto desejarem da maneira que puderem, e não apenas da maneira que percebemos ou da maneira que desejamos.

Consciência——>Estudante————>Consciência do Estudante

Criando um Ambiente Exploratório

Através da construção deste círculo de conscientização, podemos compartilhar mais efetivamente as descobertas e não apenas técnicas. Por exemplo, quando sentimos a epifania de uma nova técnica, um avanço na nossa força física ou a superação de uma luta emocional e mental que é pelo menos tão gratificante quanto a razão subseqüente do porque estávamos fazendo aquilo. Quanto mais pudermos criar estes momentos em nossas aulas, mais provável é que o aluno retenha as informações e o aprendizado. Equilibrando esta capacidade de ser responsável pelas suas explorações de movimentos enquanto apimentamos elas com a nossa experiência e conhecimento, podemos encontrar o equilíbrio que lhes permite uma sessão desafiadora e produtiva e que os ajudará a crescer de mais maneiras do que nós ou eles podem perceber.

 

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Repetição sem Redundância

O domínio de qualquer habilidade leva tempo e consistência, o que muitos chamam de repetição. Trabalhar para tornar o padrão praticado não apenas uma ferramenta em seu cinturão de utilidades, mas para que ele se torne parte de você significa que mais do que apenas um número exagerado de repetições de um movimento para ser completado durante o treino. É importante ajudar os nossos alunos a entender os diferentes benefícios e manifestações que a repetição pode ter em várias circunstâncias.

Nos jogos envolvendo repetições técnicas ou de percursos criados por eles mesmos, as repetições são o pano de fundo do jogo. Aqui o desafio é ver onde eles podem ter problemas técnicos e quais movimentos começaram a se tornar mais naturais para eles.

Percursos, exercícios e outras formas mais singulares de repetição guiadas pelo treinador, o desafio pode estar no ego para seguir instruções e na sua consciência para julgar como a técnica foi completada.

Perguntas nesta etapa para pequenos grupos ou em momentos individuais também podem ser uma grande ferramenta para quebrar a monotonia e garantir que seu foco esteja no lugar certo durante cada movimento, em vez de apenas fazer o movimento por si só.

Encontre o Simples no Complexo

Talvez isso soe meio clichê, mas vejo que muitas vezes os treinadores dão informação em excesso, turvando a mente do estudante e não lhes dando algo forte, simples e que faça sentido para ele. Outras vezes, os treinadores não dão feedback suficiente, deixando o estudante preso sem consciência o bastante para entender como o que eles estão fazendo vai ajudá-los. Essa frustração geralmente vem da falta de comunicação e consciência do objetivo compartilhado entre os dois.

Conhecer o poder de auto análise dos seus alunos o ajudará a manter os desafios num nível gerenciado. Podemos buscar isso através de uma escala intuitiva entre 3 zonas: Conforto, Trabalho e Desconforto. Talvez seja algo que você já faça, mas é importante aumentar a capacidade de nossos alunos na zona de Trabalho antes de progredirmos em desafios mais complexos. Podemos falar mais sobre este assunto em outro artigo. Principalmente no começo, estamos mais engajados em aprender e executar, descobrindo e explorando as nossas capacidades. Portanto, é importante primeiro que você e os seus alunos entendam onde estão físicamente, técnicamente e mentalmente. À medida que as suas capacidades aumentam, a complexidade pode aumentar também.

 

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Laços de Feedback sob Medida

Assim como a zona de trabalho de cada estudante é pessoal, também é importante aprendermos como cada estudante recebe melhor as informações e instruções do treinador. Alguns preferem um estilo mais militante e outros preferem um estilo mais liberal. À partir da sua tendência natural você pode expandir suas habilidades de coaching e conforto pessoal ou zonas de trabalho com diferentes grupos e idades. Ao ser capaz de expandir isto, você se abre para uma maior versatilidade em sua entrega, sendo capaz de oferecer informações de diversas maneiras e alcançar muitos tipos diferentes de pessoas.

Além de expandir sua presença como treinador, você pode aumentar…

  • Seu vocabulário de dicas para a compreensão e execução de técnicas.
  • A eficiência na utilidade do espaço e dos obstáculos.
  • A quantidade de métodos para desenvolver uma técnica, conceito ou capacidade física.
  • As diversas formas de ilustrar suas ideias.

Desenvolver e aplicar ferramentas desta estrutura permitirá que você veja como funciona cada estudante que chega a seu caminho para que você possa encontrar a maneira mais direcionada e eficaz de levar seu material até eles. Também só por ensinar e estar aberto a esta idéia, isso pode permitir que você expanda e aumente estas capacidades. Podemos aprender tanto com nossos alunos quanto em nosso próprio treinamento e pesquisa. Portanto esteja aberto a estar “errado” e a tentar métodos diferentes!

Como a maioria dos esforços que valem a pena, ser um treinador eficaz é uma busca contínua pela excelência. Esperamos que este artigo seja capaz de te ajudar em seu caminho, assim como estes conceitos e dicas de outros professores me ajudaram e continuam me ajudando no meu. Continue se movimentando!